domingo, 6 de março de 2016

Diagnóstico precoce do autismo: os médicos devem prestar atenção aos pais

O diagnóstico precoce do autismo pode ser beneficiado pelo reencaminhamento da criança para um médico especialista, assim que os pais comunicam ao pediatra as suas suspeitas, revela um estudo publicado por investigadores da Universidade de Oregon nos Estados Unidos.

Os sintomas desta doença neurológica podem aparecer antes dos dois anos de idade e o seu diagnóstico pode ser feito até aos três anos. Alterações no comportamento da criança, tais como não responder pelo nome ou não olhar nos olhos podem ser o suficiente para alertar os pais.

Neste estudo, realizado por Katharine Zuckerman e colaboradores do Doernbecher Children’s Hospital Oregon Health & Science University e a Universidade de Oregon, foi observado que existe um atraso no diagnóstico do autismo que pode ser reduzido pela atitude proactiva do responsável de saúde que acompanha a criança.

“Um diagnóstico precoce pode beneficiar não só o desenvolvimento da criança como aumentar a qualidade de vida da família”, refere Katharine Zuckerman. “Mas lamentavelmente, na maioria dos casos, passa muito tempo entre o momento em que o casal expõe ao médico as suas suspeitas sobre autismo do filho, até ao diagnóstico final desta doença”.

Esta investigação baseou-se nos dados de um relatório representativo sobre as vias de diagnóstico e tratamento de crianças entre os 6 e os 17 anos de idade realizado nos Estados Unidos em 2011 (Survey of Pathways to Diagnosis and Treatment). Este relatório compilou dados de crianças com necessidades especiais de saúde e que foram diagnosticadas com transtornos do espectro de autismo (TEA), deficiências intelectuais ou transtornos no desenvolvimento (DI/TD).

Foram utilizados dados de 1420 crianças diagnosticadas com TEA e 2098 crianças diagnosticadas DI/TD. Para a investigação em causa, foi comparada a idade da criança em que pela primeira vez os pais notaram alguma alteração no seu desenvolvimento e a idade em que pela primeira vez os pais discutiram esta preocupação com o profissional de saúde. A atitude do profissional de saúde foi categorizada em proactiva ou tranquilizadora/passiva e no caso da TEA foi feita uma associação entre a resposta do profissional de saúde e os anos que demoraram até ao diagnóstico final.

Os pais das crianças com TEA demonstraram mais precocemente preocupação pelos filhos (quando a criança tinha em média 2,1 anos) do que os pais das crianças com DI/TD (3 anos) no entanto, em ambas as situações, o tempo que levou os pais a comunicarem as suas preocupações aos profissionais de saúde foi muito semelhante. Os pais das crianças com TEA comunicaram a sua preocupação quando a criança tinha em média 2,3 anos e os pais de crianças com DI/TD quando o seu filho tinha em média 3,2 anos. Os investigadores assinalaram também que os profissionais de saúde tiveram 30% mais de atitudes passivas e tranquilizantes (do tipo “isto vai passar”) relativamente às crianças com TEA do que com as crianças com DI/TD.

Apesar de os pais das crianças com TEA terem demonstrado mais precocemente preocupação por alterações na criança (2,1 anos), comparativamente aos pais das crianças com DI/TI (3 anos), o adiamento do diagnóstico foi comum a ambas as doenças, mas foi agravado especialmente nas situações em que o profissional de saúde teve uma atitude passiva ou tranquilizadora.

Este estudo publicado no jornal The Journal of Pediatrics em abril de 2015, veio concluir que no caso das crianças com TEA, o diagnóstico demorou quase três anos após a conversa inicial com o profissional de saúde. “Espero que este estudo sirva de alerta para a necessidade de formação dos profissionais de saúde primários” declara ainda Katharine Zuckerman.

Os TEA afetam 1 a 2% das crianças nos Estados Unidos e são caracterizados por alterações no desenvolvimento neurológico e que podem manifestar-se por dificuldades na interacção social, comunicação, interesses restritos e comportamentos repetitivos.


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