segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

As matemáticas dos tratamentos in vitro ...

As matemáticas dos tratamentos in vitro nem sempre são simples... passo a explicar!

Alguns casais quando se encontram a realizar pela primeira vez um tratamento de fecundação in vitro (FIV) ficam muito surpreendidos porque o número de ovócitos e mais tarde o número de embriões vai diminuindo ao longo do tratamento, chegando no final a ficar apenas com 1 ou 2 embriões viáveis para transferir para a cavidade uterina.
Durante a estimulação dos ovários para a realização de um tratamento FIV, o médico vai observando o crescimento dos folículos (o folículo é uma estrutura que na ecografia aparece negra e que contém um ovócito - está assinalado na figura) e vai fazendo uma estimativa do número de ovócitos que seriam esperados obter no dia da punção dos folículos.


Para aqueles que estão agora em tratamento, deixo-vos um exemplo de um tratamento FIV onde podem ver os números orientativos de ovócitos e embriões.

Nº de ovócitos esperados  (contagem dos folículos durante as ecografias de monitorização)       15
Nº de ovócitos obtidos  (durante a punção dos folículos)          12
Nº de ovócitos maduros (aqueles ovócitos que se podem utilizar para serem fecundados)   10
Nº de embriões obtidos após inseminação     8
Nº de embriões viáveis após 2 dias de cultura em laboratório 8
Nº de embriões viáveis após 3 dias de cultura em laboratório 6
Nº de embriões viáveis após 5 dias de cultura em laboratório 3


Como vêm neste exemplo, durante a estimulação ovárica eram esperados 15 ovócitos, no entanto foram obtidos 12. Destes, 10 estavam em condições de serem fecundados e após a inseminação resultaram 8 embriões que ficaram em cultura em laboratório.

A maioria dos embriões sobrevive até ao segundo dia em laboratório, mas a partir dai alguns vão perdendo a viabilidade (alguns param o crescimento). Como podem ver no exemplo que vos dei, ao terceiro dia de cultura dos embriões em laboratório já "só" 6 embriões eram viáveis, e desses embriões, apenas 3 sobreviveram até ao quinto dia de cultura.

O objectivo de deixar os embriões em cultura no laboratório é seleccionar os melhores (ou o melhor) para transferir para a cavidade uterina, pois em teoria estes terão maior probabilidade de implantar e dar origem a uma gravidez. Para que esta selecção seja mais eficaz, e portanto para que a probabilidade de gravidez aumente, o ideal será deixar os embriões em laboratório o maior número de dias possível (máximo 6) pois desta forma haverá mais dados sobre eles, e sobretudo porque ficamos a saber que continuam viáveis num estado de desenvolvimento mais avançado.

No entanto, convém referir que, quanto mais tempo os embriões ficam em laboratório em cultura, maiores são as probabilidades destes não sobreviverem já que se encontram num ambiente que não o natural. Por essa razão, muitas vezes é preferível não arriscar e fazer a transferência dos embriões para a cavidade uterina nos primeiros dias de vida pois quem sabe estes embriões teriam sobrevido no útero.

Já observei casos em que o nº de embriões viáveis resultantes foi de facto muito inferior ao número inicial de ovócitos e essa diferença era cada vez mais acentuada quantos mais dias os embriões ficavam em laboratório.

De facto, é sempre um risco deixar os embriões muitos dias em laboratório, mas as taxas de gravidez podem ser consideravelmente superiores.

Quando realizarem um tratamento perguntem ao vosso médico se a opção de deixar os embriões mais dias em laboratório é algo que se adequa ao vosso caso! E não se surpreendam com as matemáticas da reprodução in vitro… afinal o que se pretende é fazer uma selecção e por essa razão o normal é terminarem com um número cada vez mais pequeno de embriões!

Boa sorte!

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