segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Novas medidas de apoio à infertilidade em Coimbra e Lisboa

Uma das preocupações dos nossos governantes tem sido a diminuição da natalidade em Portugal. A situação é grave e pede medidas urgentes. O nosso país está a perder população e prevê-se uma redução drástica nas próximas décadas. A situação é de tal forma assustadora que se fala numa previsão de 6,3 milhões de habitantes para o ano 2060 caso o cenário da natalidade e da migração continuem em "baixa".  Atualmente somos o país da europa com menos nados vivos por mulher em idade fértil. Este número tem vindo a descer desde o início dos anos 80, nessa altura o ISF - índice sintétido de fecundidade - nº nados vivos/ mulher durante o período fértil era de 2,0. Atualmente o ISF de Portugal situa-se nos 1,2!


boa notícia é que em Portugal a fecundidade desejada é de 2,3 filhos! Na verdade a maioria das pessoas, independentemente da situação conjugal, do nível de escolaridade, ou da condição perante o trabalho deseja ter pelo menos 2 filhos! Estes dados foram obtidos através do inquérito à natalidade realizado em 2013 e do qual falei anteriormente aqui.

O que é certo é que há pouco tempo países da UE também estavam com valores baixos de natalidade e conseguiram inverter esse decréscimo da natalidade. Como o fizeram? Quais as medidas tomadas? É certo que tem que haver uma conjugação de inúmeros fatores para proporcionar aos casais condições aceitáveis para criar família.

Em abril deste ano o primeiro ministro nomeou uma Comissão de trabalho (independente do seu partido político) para elaborar um conjunto de propostas de incentivo à natalidade. No final o grupo elaborou um relatório "Por um Portugal amigo das crianças, da família e da natalidade 2015-2035"

Fonte: jornal Sol 

Achei o relatório muito interessante e completo pois analisa também as medidas tomadas para incentivar a natalidade nos países com maior crescimento demográfico. Vale a pena dar uma olhadela e ver como os outros países da UE apoiam as famílias valorizando a flexibilidade no trabalho, aumento de subsídios, etc. No final deste relatório, foram definidas 29 medidas, distribuídas por várias áreas de atuação: incentivo fiscal, emprego, educação, saúde e solidariedade.

Na área da infertilidade, as medidas propostas foram:
- aumento da comparticipação dos medicamentos de 69 para 100%  (este aumento pode chegar aos 500 euros);
- melhorar a capacidade de resposta dos centros de PMA (procriação medicamente assistida);
- aumentar a idade limite das mulheres que podem recorrer a técnicas de PMA para os 42 anos.

Recentemente o ministro da saúde veio dizer que foi acordado o aumento de ciclos de PMA para Coimbra e para Lisboa e que estão neste momento em fase de negociações com os centros hospitalares. Relativamente ao aumento da idade limite da mulher para realizar estes tratamentos,  a proposta ainda está a ser estudada e foi pedido um parecer ao CNPMA (comissão nacional para a procriação medicamente assistida).

Só nos resta aguardar e ver quais os frutos deste relatório! Esperemos que os nossos governantes não deixem a questão adormecer!


sexta-feira, 10 de outubro de 2014

A importância da congelação de embriões e gâmetas

Desde o nascimento de Louise Brown em 1978 (primeiro bebé que nasceu com recurso às técnicas de reprodução in vitro) que a medicina da reprodução tem evoluído muito. Para mim, uma das maiores conquistas tem sido a técnica da congelação de embriões e de gâmetas (ovócitos e espermatozóides).

Banco de armazenamento de material biológico.

A congelação do material biológico permite a qualquer indivíduo ou casal aumentar as suas probabilidades de gravidez no futuro. Como já referi num artigo passado, existem vários métodos para congelar o material biológico e o grande avanço destas técnicas foi o aumento das taxas de sobrevivência do material biológico após descongelação.

E porque é importante a congelação? Primeiro porque na maioria dos ciclos de reprodução assistida são criados embriões excedentários (embriões que não são transferidos para a cavidade uterina). Ao congelarmos esses embriões, estamos a permitir aos casais utilizarem os mesmos em novas tentativas de gravidez, aumentando assim as probabilidades de gravidez por tratamento. A congelação de gâmetas também é uma ferramenta valiosíssima pois permite que um indivíduo congele os seus ovócitos ou espermatozóides enquanto jovem para mais tarde os utilizar.

É do conhecimento de todos que a idade em que os casais têm o primeiro filho está a aumentar. Se na década de 70 a mulher tinha o primeiro filho aos 23 anos, hoje em dia a maioria das mulheres não tem filhos antes dos 30 anos (Fontes/Entidades: INE, PORDATA, dados de 30/04/2014). Ou seja houve um atraso de 7 anos. Este facto deve-se à entrada tardia dos jovens no mercado de trabalho (mais concretamente pelo aumento do nível de estudos das mulheres), e na independência económica tardia que os leva a demorar mais tempo até encontrarem as condições propícias para terem descendência. Este atraso na maternidade tem sido uma das razões pelas quais hoje em dia há um aumento do número de casais a procurar ajuda para conseguir engravidar.

Como já referi anteriormente, a capacidade reprodutora da mulher começa a diminuir por volta dos 35 anos. Fundamentalmente porque a qualidade dos ovócitos piora e a reserva ovárica diminui. Por essa razão, a técnica de congelação de ovócitos poderá ser importante para todas as mulheres que se vejam obrigadas a adiar o seu projeto de maternidade pois permite guardar os seus ovócitos enquanto jovens e utiliza-los mais tarde.

Ao congelar os seus ovócitos antes dos 35 anos, a mulher vai preservar a sua fertilidade. Mas atenção que a congelação não garante que a mulher consiga engravidar no futuro! Vai depender entre outras coisas da qualidade que os ovócitos tinham quando foram congelados.

A congelação dos gâmetas é também muito importante para aqueles indivíduos que tem uma doença oncológica e que se vão submeter a tratamentos de quimioterapia e radioterapia. Sabemos hoje que estes tratamentos vão comprometer a fertilidade dos indivíduos pelo que é aconselhável congelar os gâmetas antes de iniciarem os tratamentos oncológicos. Se quiserem ler mais acerca deste assunto vejam aqui.

Tenham um ótimo fim de semana!

#congelacaoembrioes, #vitrificacao, #vitrificacaoembrioes




quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Perda de sangue = teste de gravidez negativo??

Continuo a observar casais que se submetem a tratamentos de procriação medicamente assistida e depois resolvem deixar a toda a medicação sem consultar o médico porque pensam que o tratamento não resultou. Uma vez mais venho insistir neste tema mas o meu objetivo é mesmo sensibilizar-vos para que façam o teste de gravidez! Caso comecem a sangrar antes da realização do teste de gravidez POR FAVOR consultem o vosso médico! Perguntem se é possível realizar o teste um dia antes, ou inclusive se valerá a pena aumentar ligeiramente a dose de progesterona que estão a administrar. Só ele vos pode dar as instruções adequadas!

Foto: cuadernoderetazos

E porquê o meu alerta? Porque sei de casos de senhoras que deixaram de administrar a medicação prescrita sem consultarem o médico apenas porque perderam sangue e entenderam que estavam a menstruar. Pois estavam enganadas! Provavelmente tiveram um desiquilíbrio hormonal e de facto algumas dessas mulheres (poucas) estavam grávidas e acabaram por abortar....

A ocorrência de pequenas perdas de sangue no início da gravidez é algo comum. De facto uma em cada cinco mulheres sofre pequenas perdas de sangue e a maioria das vezes nestas pequenas perdas não têm qualquer importância. No entanto é fundamental que informem o médico assistente para que ele possa avaliar qual a possível causa.

Uma vez mais venho referir a importância da realização do teste de gravidez e dizer-vos que leiam aqui o artigo que escrevi sobre este assunto no passado.

"O teste de gravidez: fazer ou não?" a decisão é sua ...  mas depois não diga que eu não avisei!

#testegravidez





segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Primeiro bebé nascido de uma mulher com útero transplantado

Mais um grande avanço na área da medicina da reprodução: uma mulher com 36 anos deu à luz o primeiro bebé nascido de um útero transplantado.

Esta mulher que tinha nascido sem útero devido a uma anomalia congénita do aparelho reprodutor feminino (Síndrome de Rokitansky) recebeu num hospital de Gothenberg na Suécia (Hospital Universitário de Sahlgrenska) o útero de uma amiga da família de 61 anos. A dadora que ainda é viva, tinha entrado na menopausa há 7 anos atrás e tinha sido mãe aos 26 e aos 29 anos de idade, os seus partos foram vaginais e ambos terminaram às 41 semanas.

Depois do transplante, a mulher teve a primeira menstruação após 43 dias e a partir dai começou a ter menstruações regulares com intervalos de 32 dias.

Os ciclos de fertilização in vitro tinham sido realizados entre 18 e 6 meses antes do transplante, utilizando a técnica de ICSI e os embriões resultantes foram congelados. Passado 1 ano após o transplante, foi programada a transferência de 1 embrião num ciclo natural da mulher (a equipa médica não quis arriscar uma gravidez gemelar). Foram descongelados 3 embriões mas apenas 1 tinha qualidade para ser transferido (tinha sido congelado com 4 células e 3 células tinham sobrevivido à descongelação). A probabilidade de gravidez estimada pela equipa médica para aquele tratamento era de 16% mas o milagre aconteceu e passada 3 semanas o resultado do teste de gravidez foi positivo!

A gravidez decorreu de forma normal até às 31 semanas. Os parâmetros obstétricos estavam dentro da normalidade e por essa razão a mulher pôde trabalhar até à véspera do parto. Quando cumpriu as 31 semanas e 5 dias, a mulher foi internada no Hospital com pré-eclampsia  apresentando uma pressão arterial de 180/120 mm Hg, ligeiras dores de cabeça e proteinúria. 16 horas após ter dado entrada no hospital foi realizada cesariana e nasceu um rapaz com 1775 g, 40 cm e um índice de APGAR de 9, 9 e 10.
Hoje sabemos que o bebé nascido em setembro e a sua mãe se encontram em perfeito estado de saúde.

Primeiro bebé nascido após transplante de útero. Fonte: The lancet. 


Em 1978 recebemos a notícia do nascimento de Louise Brown, a primeira bebé nascida com a ajuda das técnicas de fertilização in vitro. Desde então tem sido feitos inúmeros progressos na área da medicina da reprodução e muitas são as causas de infertilidade que hoje em dia podem ser tratadas. Contudo, o fator uterino grave, neste caso, a ausência de útero continuava a ser um obstáculo importante nesta área. As mulheres nestas condições apenas podiam ter filhos biológicos se recorressem a úteros de "aluguer". Este acontecimento veio demonstrar que o transplante de útero é possível e funciona. Resta agora saber qual a eficácia deste tipo de tratamento e quais os seus riscos e se este procedimento pode ser a solução para as mulheres com problemas uterinos graves.

Para mais leituras deixo-vos aqui o artigo publicado na revista britânica The lancet.



sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Embriões do tamanho de uma maçã!

Recentemente foi publicada uma notícia sobre a nova técnica de impressão de embriões a 3D.

O grupo do Prof. Samir Hamamah,do centro de reprodução in vitro do Hospital Universitário de Montpellier (França) desenvolveu um sistema para monitorizar e imprimir um molde 3D (tridimensional) de um embrião humano. A razão de ser desta técnica recentemente patenteada deve-se à falta de informação dada pelos microscópios óticos que apenas permitem a visualização de um único plano de imagens dos embriões. De acordo com os investigadores, com o auxilio deste molde será mais fácil para os clínicos escolherem os melhores embriões para transferir para a cavidade uterina.


Com esta nova tecnologia é possível tirar fotos dos vários planos dos embriões que depois são geridas por um programa de software que permite reconstruir e imprimir um modelo 3D do embrião. De acordo com o Prof. Samir Hamamah, este modelo que tem o tamanho de uma maçã, acaba por ter muito mais informação acerca do embrião pelo se espera que no futuro permita aumentar as taxas de gravidez e implantação dos tratamentos. Será mesmo assim? Vamos aguardar para ver...  pelo menos os modelos são muito bonitos!


Fig 1 - O modelo criado por computador.



Fig 2 - O modelo criado por computador.




Fig. 3- o modelo final impresso.



quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Mãe eu sou adotada?

Adoro tirar fotografias. Adoro os contrastes de cores, as formas e sobretudo adoro captar os momentos para mais tarde poder recorda-los. Por essa razão tenho muitas fotos. Ainda recordo quando me ofereceram a primeira máquina fotográfica. Fiquei radiante e ao mesmo tempo com um dilema importante. Os rolos iniciais eram de 12 fotos, mais tarde passámos para 24, mas ainda assim, para mim sempre foi muito difícil gerir o que queria fotografar. Pois além da limitação do número de fotos, cada vez que tinha que ir revelar um rolo fotográfico lá se iam as minhas mesadas.


Fonte: creative commons


Quando surgiu a fotografia digital foi uma alegria. Comecei a tirar fotos de tudo e de todos até que me aborreci por não ter limites. Podia tirar as fotos que queria e não era necessário imprimi-las.

Nas vésperas da minha filha mais velha nascer resolvemos comprar uma boa câmara para podermos registar a evolução gradual que ela ia tendo. Até comprei um livro para colar as fotos e fazer um álbum sobre ela. Mês a mês deliciava-me a recordar as fotos no computador (como se já tivesse passado muito tempo!) e a fazer a seleção das melhores para enviar para os avós mas confesso que fui deixando o álbum por fazer. Esquecido ficou até ao dia de ontem em que a minha filha me perguntou do nada: “mãe eu sou adotada?”. Eu que estava a terminar de lavar a louça, girei-me de repente, tentando parecer calma e lhe disse “não, tu não és adotada, mas porque é que me fazes essa pergunta?”. Naquele instante passaram pela minha cabeça uma série de questões mas quando me diz “ porque nunca me mostraste uma fotografia tua comigo na barriga” fiquei paralisada. Tinha razão. Tinha toda a razão! É claro que já lhe mostrei uma fotografia minha grávida, mas o facto de não ter imprimido essa fotografia e de não lha mostrar com alguma frequência ela terminou por esquecer.

Este é o único senão que encontro na nova era digital de fotos. Tiramos tantas fotos que se torna difícil por vezes escolher as melhores e na maioria das vezes nos esquecemo-nos ou pensamos que não é importante imprimi-las. No final, acabamos por encher o computador com fotos e acabamos por não saber onde encontra-las!

Hoje dei por mim a organizar as fotos que tenho no computador e deixo-vos aqui uma dica para fazerem o mesmo com as vossas (acredito que sejam poucos aqueles que têm as fotos todas organizadas ... confessem! ).

A forma mais simples para organizar as fotos é tentar descarrega-las da câmara fotográfica ou do computador no final do mês. No computador devemos criar uma pasta com o ano, e dentro de cada ano, várias subpastas com o mês. Em determinados meses criei também algumas subpastas com o título dos acontecimentos que fotografei (anos da B, anos do M.). Dá muito trabalho mas confesso fica muito mais fácil para encontrar as fotos!

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Telemóvel e infertilidade masculina. Qual a relação?

Como sabem hoje em dia já não somos capazes de viver sem um telemóvel. Este pequeno objecto apareceu em Portugal no final da década de 80 (no Brasil em 1990) e desde então já tem milhões de utilizadores (um dado curioso: o Brasil é o quarto pais do Mundo com mais utilizadores de telemóvel). Dado que os telemóveis produzem radiação electromagnética na gama das rádio frequências (RF- EMR) e dado que são amplamente utilizados por milhões de pessoas em todo o mundo, tem sido uma das preocupações da OMS (organização mundial de saúde) averiguar os possíveis efeitos adversos destes aparelhos para a saúde humana.

A corrente oscilatória e as transferências de energia produzidas pelas radiações do telemóvel podem conduzir a um aquecimento rápido que poderá influenciar a qualidade espermática. Mas não só, há outro tipo de interações que não dependem da temperatura e que podem alterar a estrutura das proteínas e aumentar o stress oxidativo e consequentemente produzir danos no DNA espermático.

Imagem: televicentro
Recentemente foi publicada uma revisão bibliográfica dos ensaios clínicos realizados entre 2000 e 2012 sobre os efeitos adversos dos telemóveis na fertilidade masculina. Este estudo realizado pela equipa da Dra. Fiona Mathews da Universidade de Exeter compilou e analisou os dados de 10 estudos científicos independentes publicados por centros de fertilidade e centros de investigação. O número total de amostras seminais foi de 1492 e os parâmetros seminais analisados foram a concentração espermática, a mobilidade e a vitalidade.

Os resultados destes estudos foram concordantes de que a exposição aos telefones móveis reduz a mobilidade espermática (aproximadamente em 8%) e a vitalidade dos espermatozóides (aproximadamente 9,1%). Contudo, os resultados desses estudos no que respeita às variações da concentração espermática não foram conclusivos. Existem dados que concluem que a concentração espermática é também alterada mas existem também dados contraditórios pelo que será necessário realizar mais estudos para tirar alguma conclusão a esse respeito.

Uma vez que a maioria dos homens guarda os telemóveis no bolso das calças, ou seja, muito próximo dos órgãos reprodutores, pensa-se que o aquecimento que este aparelho provoca nos testículos poderá conduzir a alterações na espermatogénese (processo de formação e desenvolvimento de espermatozóides) e na produção de espermatozóides. Por outro lado, pensa-se que os efeitos provocados pelos telemóveis sejam mais relevantes em homens que apresentem alterações significativas nos espermogramas.

Este é mais um aviso de como o nosso dia a dia pode alterar a nossa saúde e neste caso concreto a fertilidade masculina. O meu conselho para aqueles homens que pretendem ser pais e que estão a fazer tratamentos de fertilidade, é que façam um esforço nos meses prévios aos tratamentos e não coloquem os telemóveis no bolso das calças!


Nota: as radiações produzidas pelos telemóveis são de baixa frequência e podem ser absorvidas pelo corpo humano. No entanto, estes aparelhos são fabricados de modo a que a taxa de absorção de radiação pelo corpo humano não seja suficiente para ionizar os átomos ou as moléculas. Contudo, e apesar do controlo legal destes aparelhos existem dados de que os telemóveis possam provocar dores de cabeça, aumento da pressão sanguínea e alterações das ondas cerebrais durante o sono.

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