quinta-feira, 12 de junho de 2014

Um caso de sucesso

Como sabem trabalho num laboratório de fertilização in vitro e no meu dia a dia contacto com muitos casais. Depois de várias conversas acabei por ficar amiga de um deles que passou por um tratamento de fertilidade no centro onde trabalho. Era um casal jovem, que tinha realizado no passado 3 tratamentos mas todos eles sem sucesso. Apesar de ver que o otimismo deste casal não tinha sido abalado, e que dominavam já bastantes conhecimentos sobre o leque de tratamentos de reprodução assistida, comentaram-me que à medida que observavam que os seus tratamentos não tinham resultados, acabavam por ter cada vez mais dúvidas e procuravam ler mais sobre possíveis alternativas. Naquela altura a Maria tinha 34 anos e o Filipe 36. Tinham decidido ter filhos há 4 anos. Mas infelizmente o tão desejado filho nunca mais chegava e passado um ano e meio de tentativas acudiram a dois centros de fertilidade onde realizaram no total 3 tratamentos de fertilização in vitro. Chegaram ao centro onde trabalho, e felizmente o tratamento correu muito bem e engravidaram.

Na semana passada telefonaram-me para que fosse ver o seu bebé! Fiquei muito feliz pela visita e feliz por ver que depois de alguns anos de luta finalmente tinham conseguido o seu sonho: o de serem pais.
Por ser um caso de luta e perseverança e de sucesso, pedi-lhes que me concedessem uma entrevista. Os seus nomes são fictícios, pois não quiseram ser identificados.

Laboratório de Sonhos (LS): Bom dia, agradeço a vossa disponibilidade para falarem sobre o vosso caso de infertilidade. Sei que já algum tempo que desejavam ter filhos. Quando decidiram pedir ajuda e porquê?

Maria: Casei-me muito jovem, com 25 anos. Naquela altura quisemos aguardar um tempo antes de aumentar a família pois a nosso ver eramos ainda muito novos e queríamos desfrutar um tempo sozinhos. Por volta dos meus 30 anos, decidimos que era altura de sermos pais e então iniciamos os "treinos". Mas infelizmente, o tempo começou a passar e cada vez que me aparecia a menstruação era como que um "balde de água fria". Ficava triste e começava a achar que algo não estava bem e que tinhámos que pedir ajuda. Esperei 6 meses. Fui ao ginecologista que me pediu vários exames e inclusive tentou fazer uma estimulação para coito programado mas que não resultou. Passado algum tempo fomos reencaminhados para um especialista em medicina da reprodução.

LS: Tiveram alguma ajuda financeira para realizar os tratamento?
Filipe: Como eramos jovens inscrevemo-nos num hospital público mas como as listas de espera eram tão grandes decidimos marcar em simultâneo consulta num centro privado. No fundo não quissemos esperar mais tempo. Se tivéssemos sido logo chamados para o centro público claro que teríamos ido, mas tal não aconteceu. Quando nos chamaram já nós tínhamos concluído um tratamento no privado.

LS: Contem um pouco como foi o vosso percurso, quantos tratamentos realizaram.
Maria: Quando chegámos ao primeiro centro privado foram-nos solicitadas vários exames mas infelizmente nenhum deles foi conclusivo. Parecia haver um ligeiro problema com a qualidade dos espermatozóides do meu marido mas nada muito acentuado pelo que partimos para duas inseminações artificiais. Após dois resultados negativos decidimos avançar para a fecundação in vitro. Necessitavamos de uma técnica mais eficaz pois já estavamos a ficar impacientes e com menos recursos económicos. Realizamos uma fecundação in vitro (FIV) mas também esta não funcionou. Os biólogos informaram-nos que os nossos embriões não tinham qualidade. Tentámos mais duas FIV mas sem resultados. Só engravidei na terceira FIV. Já pensava que não iria conseguir...

LS: O vosso percurso ainda foi longo. durante os tratamentos nunca sentiram a falta do apoio de um psicólogo? 
Maria: Tenho que confessar que algumas vezes estive para marcar consulta mas depois ficava com vergonha. Durante as injeções ficava um pouco ansiosa e depois quando os embriões estavam no laboratório, e dado o meu histórico de má qualidade embrionária, a ansiedade aumentava. Ao principio ficava em casa depois das transferências dos embriões mas depois comecei a perceber que era pior, que a minha cabeça tinha que estar ocupada e regressava ao trabalho. Acabei por passar uns dias muito angustiada mas depois recuperava. Mas sim, a ajuda de um profissional dessa área teria sido muito útil.

LS: Qual foi a diferença neste último tratamento de FIV. Porque acha que resultou?
Maria: Fui avisada de que a minha reserva ovárica estava a diminuir e para além disso a qualidade dos meus embriões não era muito boa. Neste último tratamento tivemos que optar por recorrer a doação de óvulos.

LS: Qual a mensagem que quer transmitir aos casais que estão a realizar ou pensam realizar tratamentos de fertilidade? 
Fonte: creative commons. Não é a foto real do casal.
Maria: O mais importante é a perseverança e nunca deixarem de acreditar que um dia vão ser pais. É certo que quando os resultados são negativos começamos a desanimar, mas devemos tentar estar unidos e sobretudo falar. Eu tinha muitos receios mas o apoio do meu marido foi fundamental. Hoje quando olho para trás sinto que valeu a pena todo este esforço, quando tenho o nosso filho nos meus braços esqueço-me de tudo. E sobretudo agora que já sei que é possível já comecei a falar em dar-lhe um irmãozinho.



LS: Muito obrigada pelo vosso depoimento. E muitas felicidades!



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